Um dos posts mais visitados no BSF é Como obter acesso a artigos científicos, onde eu mostrei como é possível garantir acesso aos artigos de forma legal, mesmo sem ter acesso ao Portal Capes, que é o grande fornecedor brasileiro desses materiais.
Agora eu vou mostrar como conseguir os artigos científicos de modo ILEGAL. Preparei esse vídeo com as duas modalidades mais simples, vocês podem assistir:
Além do Sci-Hub e do #icanhazpdf existe uma série de outros sistemas que funcionam como vpns ou proxy para burlar o acesso que é garantido somente via ip, modalidade de restrição de acesso comum nas universidades.
Entre os bibliotecários existem comunidades fechadas de intercâmbio de artigos, exatamente como é feito nas modalidades anteriores de compartilhamento entre bibliotecas, mas desta vez funcionando de maneira muito mais rápida e conveniente. Um bibliotecário parceiro pode solicitar um artigo ou parte de livro, e os membros da comunidades oferecem o material por email, caso tenham acesso a ele. Esses grupos envolvem bibliotecários e pesquisadores do mundo inteiro, mas por questões éticas e de segurança, preocupação especial entre os bibliotecários americanos, essas comunidades não são divulgadas e difíceis de achar.
Um questionamento comum é como que práticas de burla dos sistemas tradicionais de compartilhamento entre bibliotecas (no Brasil em particular o COMUT) podem prejudicar o desenvolvimento futuro das coleções de periódicos nas bibliotecas, uma vez que elas dependem do volume e estatísticas de acesso para avaliar e garantir que o acesso às coleções seja mantido. Se todos passarem a contornar o COMUT porque ele é lento e caro (e de fato é) ou o Portal Capes porque não contempla os artigos requisitados (obviamente o portal não garante acesso a todos os artigos do universo) o temor é que essa tática acabe por prejudicar os usuários, já que as bibliotecas não terão como avaliar o desempenho de uso das assinaturas que estabelecem com as editoras científicas, e uma das partes ou ambas decidirá terminar o acordo de acesso aos materiais.
Se estes serviços passam a ser entendidos como irrelevantes face à possibilidade de intercâmbio em tempo real via Twitter por exemplo, os recursos e investimentos destinados às bibliotecas para tal se tornam difíceis de justificar. Claro que as bibliotecas precisam reconhecer suas incapacidade de oferecer serviços adequados à tecnologia disponível no mundo de hoje e não querer ficar sempre justificando seu status de gatekeeper oferecendo serviços de merda (empréstimo entre bibliotecas que demora dias, que custa caro, exige visita in loco à biblioteca e que o usuário recebe no final uma cópia xerocada do artigo impresso). O grande problema na conjuntura atual da publicação científica circunscrita aos interesses de editoras acadêmicas com fins lucrativos é que alguma biblioteca ou grande consórcio de bibliotecas sempre precisará servir de base para que todos os membros da comunidade online possam conseguir almoçar de graça. Isto é, mesmo que em princípio estejamos preocupados em atender os usuários da maneira menos penosa possível, eles poderão ser penalizados no final. Mas de alguma forma ou outra, quem está pagando por isso somos nós mesmo, os financiadores das pesquisas realizadas em instituições públicas.
No meu caso particular como bibliotecário, eu tento alinhar a desobediência civil com a prestação de serviços adequada à demanda real dos usuários, o que qualquer código de ética profissional razoável em última instância absolveria. Claro que esses sistemas de burla de acesso aos artigos infringem contratos estabelecidos entre bibliotecas e editoras e direitos dos autores, mas não creio que possam ser entendidos como uma espécie de pirataria. Na minha longa experiência trabalhando no auxílio à outras áreas, no implemento da pesquisa científica, não encontrei ninguém que estivesse mutuamente interessado em obter acesso à temas de pesquisa e vender réplicas de artigos de 15 laudas em banquinhas na esquina.
Posso conversar ad nauseamente sobre pirataria de artigos científicos, boicote à editores científicos com fins lucrativos e transgressão das modalidades tradicionais de empréstimo entre bibliotecas e comutação bibliográfica, ou podemos apenas nos manter firmes dentro da perspectiva de desobedecer certas barreiras de acesso à produção científica simplesmente porque tecnicamente isso é possível.
Se a solução for combater fogo com fogo, então as bibliotecas precisam correr atrás do prejuízo técnico, resultado de anos destinados ao desenvolvimento de coleções, mas pouquíssimo investimento aplicado aos melhores mecanismos sobre como essas coleções são usufruidas pelo público.