DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - v.8 n.3 Jun/07 ARTIGO 03
The Cyberspace: the term, the definition and the concept
Resumo: Busca na Literatura, ciência e Filosofia a sintaxe, a semântica e pragmática, ou o termo, a definição e o conceito de ciberespaço, respectivamente. Por um lado, a criação do termo localiza-se na Literatura, mas sua dimensão existencial situa-se na extensão ou denotação das definições contidas na ciência sobre o mesmo por outro, o conceito de máquina abstrata o antecede, lança seu sobrevôo nesse objeto, mas não exclusivamente nele, de forma intencional, conotando-o. Desse modo, a Arte está mais próxima da Filosofia, no tocante à criação de conceitos. Conclui-se que o ciberespaço é um ambiente que nos permite inúmeras possibilidades de mundo “real”. É um universo virtual, plástico, fluido, carregado de devires. O ciberespaço, enfim, é uma grande máquina abstrata, porque semiótica, mas também social, onde se realizam não somente trocas simbólicas, mas transações econômicas, comerciais, novas práticas comunicacionais, relações sociais, afetivas e, sobretudo, novos agenciamentos cognitivos. Apresenta também, algumas categorias topográficas do ciberespaço. Percebe-se que os autores empregados no estudo do ciberespaço situam-se nas teorias pós-modernas, visto que o projeto moderno não contempla conceitos como a imaterialidade e desterritorialização, novos desafios impostos pelas Tecnologias da Informação e Comunicação .
Palavras-chave: .Ciberespaço; Conceito; Máquina abstrata; Pós-moderno.
Abstract: Search in the Literature, science and philosophy, syntax, semantic and pragmatic or the term, definition and concept of cyberspace respectively. On the other hand the creation of the term places in the Literature, but its existence dimension is situed in the extension or denotation of the definitons contained in the science about the same, on the other hand, the concept of abstract machine advances it, launches its flight in this object, but not exclusively in it, in a intentional way, connoting it. Consequently the Art is closer to Philosophy concerned to the creation of concepts. In conclusion the Cyberspace is an environment that allow us many possibilities of “real” word. It’s a virtual space, plastic, fluid, loaded of devires then the Cyberspace, is a big abstract machine due to it is semiotic but social too, where take place not only symbolic exchanges but economical commercial deals, new comunicacionais practices, social and affectional relations and above all new cognitive negotiations. It also has some topographic category of the Cyberspace. The authors used in the study of the cyberspace mention the pos-modern theories, seeing that the modern project does not consider concepts like the immateriality and the deterritorialization new challenges imposed by Information and Communication Technologies.
Keywords: Cyberespace; Concept; Abstract machine; Pos-moderrn.
1. Introdução
O que é um conceito? É a ciência que o cria ou a Filosofia? A Arte tem alguma participação na criação de conceitos?
São essas as indagações perturbadoras que se impõem ao pesquisador quando se depara com objetos novos de investigação. Com efeito, discorrer ou conceituar o ciberespaço não é tarefa fácil em face de sua incipiência e a característica metamórfica de suas obras, e sobretudo porque o virtual é o seu principal atributo.
Hoje em dia conhecemos um novo espaço de leitura e escrita. As letras – concretas e palpáveis – transformaram-se em bytes digitais; a página em branco é o campo do monitor; a caneta é o teclado. Há, agora, uma estranha separação entre o nosso corpo (real) e o texto (virtual). Até que seja impresso (atualizado), o texto pode ficar indefinidamente nessa virtualidade. É um novo modo de lidar com a escrita, característico de um momento que alguns denominam pós-moderno e outros cibercultura (Ramal, 2002).
O ciberespaço é definido como um mundo virtual porque está presente em potência, é um espaço desterritorializante. Esse mundo não é palpável, mas existe de outra forma, outra realidade. O ciberespaço existe em um local indefinido, desconhecido, cheio de devires e possibilidades. Não podemos, sequer, afirmar que o ciberespaço está presente nos computadores, tampouco nas redes, afinal, onde fica o ciberespaço? Para onde vai todo esse “mundo” quando desligamos os nossos computadores? É esse caráter fluido do ciberespaço que o torna virtual.
Se o ciberespaço está em crescente expansão, e se esse crescimento afeta todas as camadas da sociedade e áreas do conhecimento, se já usufruímos (e cada dia mais) das facilidades propiciadas por esse novo espaço de "disponibilização" de informações, é necessário tornar comum o que tudo isso significa, procurando entender, primeiramente, o que é o ciberespaço e quais suas características.
Fazendo uma retrospectiva na literatura científica e filosófica, pode-se observar várias definições e alguns poucos "conceitos" respectivamente, que são plenamente aplicáveis ao ciberespaço, mas seu termo surge na literatura de ficção, quer seja, na Arte. Essa confluência semântica e de disciplinas reflete a multiplicidade do ciberespaço, mas, voltemos à questão do conceito.
Para Deleuze e Guattari (1997a, p.163) cabe à Filosofia criar os conceitos e não à ciência, pois a diferença entre as duas reside no "... pressuposto respectivo do conceito e da função: aqui um plano de imanência [ou consistência], lá um plano de referência [ou coordenação]." Já a Arte consiste em situar-se no plano da composição. Portanto, a Filosofia cria os conceitos, independentemente do seu plano de referência ou de uma figura. A imanência dos mesmos permite o sobrevôo nos acontecimentos, um devir uma vez que "O conceito é o contorno, a configuração, a constelação de um acontecimento por vir. "Os conceitos, neste sentido, pertencem de pleno direito à filosofia, porque é ela que os cria, e não cessa de criá-los." (p. 46).
À ciência cabe buscar a referência do conceito, ou melhor, sua função é extensiva, ao passo que a Filosofia é intensiva justamente porque cria os conceitos. Ora, no plano de referência está a figura, o objeto e a explicação desses objetos. Assim ocorre que a ciência é discursiva e suas proposições não devem ser confundidas, segundo os autores supracitados, com os conceitos, mas antes, são explicações das funções acerca dos conceitos ou com os estados de coisas no qual se encarnam.
A Filosofia pensa por conceitos, a ciência por figuras, que são essencialmente projetivas, paradigmáticas, hierárquicas e referenciais, em contrapartida, os conceitos são conectivos, sintagmáticos, vicinais e consistentes. Eis que apesar dessa divisão de trabalho entre o cientista, o filósofo e o artista, uma matriz comum pode suscitar entre eles relações de conexão (Deleuze e Guattari, 1997a). Talvez o ciberespaço seja, atualmente, essa matriz que nos faz sobrevoar várias disciplinas.
Normalmente, a falta de um plano de consistência sobre conceitos, sobretudo na área da Ciência da Informação, acaba nos remetendo sempre ao plano da referência, de sua função, e de sua semântica. Não obstante, brevemente, iremos buscar sua origem, que se situa na Arte, portanto o aparecimento do termo ou da sintaxe, e um conceito filosófico, no âmbito da pragmática, que possa contornar o ciberespaço.
Origem do termo2 ciberespaço na literatura
Gibson, que cunhou o termo "cyberspace" em suas obras literárias, é o exemplo de autores que destruíram as fronteiras entre a Filosofia, teoria social e Literatura. Nesse sentido, Kellner (2001) afirma que a obra de ficção científica de Gibson:
Sugere a desconstrução das posições nítidas entre literatura e teoria social, mostrando que grande parte da teoria social contém uma visão narrativa do presente do futuro, e que certos tipos de literatura apresentam um mapeamento convincente do ambiente contemporâneo e, no caso, do cyberpunk, das tendências futuras. (p. 381).
O prefixo “cyber” vem do grego, significando “controle”, afirma Kellner (2001). Nesse sentido, o físico Norbert Wiener cunhou, nos anos 40, o termo cibernética com o significado de ciência do controle e da comunicação entre os seres vivos e as máquinas. A partir daí, o prefixo “ciber” passou a referenciar diversos termos relacionados ao domínio da computação e das “máquinas inteligentes”(Cascais, (2001).
O termo ciberespaço, segundo Kellner (2001), foi empregado pela primeira vez pelo norte-americano Willian Gibson em um conto (Burning Chrome) em 1982. No entanto, encontramos comumente na Literatura que o termo ciberespaço foi cunhado por Gibson em sua obra Neuromancer publicada no ano de 1984. No prefácio à edição brasileira (2003), o tradutor de Neuromancer, Alex Antunes, afirma que:
o conceito criado por Gibson neste livro, o cyberespaço, é uma representação física e multidimensional do universo abstrato da 'informação'. Um lugar pra onde se vai com a mente, catapultada pela tecnologia, enquanto o corpo fica pra trás. (Gibson, 2003, p.5-6).
Para Gibson, na mesma obra, o ciberespaço é:
Uma alucinação consensual vivida diariamente por bilhões de operadores autorizados, em todas as nações, por crianças aprendendo altos conceitos matemáticos... Uma representação gráfica de dados abstraídos dos bancos de dados de todos os computadores do sistema humano. Uma complexidade impensável. Linhas de luz abrangendo o não-espaço da mente; nebulosas e constelações infindáveis de dados. Como marés de luzes da cidade. (2003, p. 67).
Em outros trechos, Gibson (2003, p. 14) fala do ciberespaço da seguinte maneira: "[Case, o protagonista do romance] operava com uma taxa de adrenalina quase sempre alta, uma mistura de juventude e competência, com sua consciência fora do corpo projetada na alucinação consensual da matrix por meio de um deck cyberespacial customizado." Era uma experiência que implicava em euforia e incorporeidade, com o cérebro "plugado" em programas, próteses entre tecnologia e neurologia, daí o título "Neuromancer" 3, uma inteligência artificial que busca o domínio humano e das máquinas. Gibson imaginou que seria possível não apenas entrar nesse espaço imaginário criado por uma rede universal de computadores contendo todo tipo de informações, como também explorar os dados com os nossos diversos sentidos e até mesmo transmitir informações diretamente para o computador.
No entanto, Kellner (2001) considera a definição de Gibson um tanto enganadora, no que tange à alucinação, uma vez que os fenômenos que estão sendo descritos com o termo ciberespaço são atuais e reais no presente: são os sistemas de bancos de dados, as comunicações por mensagem eletrônica e on-line, a televisão por satélite e os jogos e máquinas que se valem da realidade virtual. Afirma, ainda, que esses fenômenos não são alucinatórios nem subjetivos, mas simplesmente espaços e redes de uma sociedade tecnológica dominada pela mídia.
Os personagens do romance de Gibson movem-se no ciberespaço. Kellner (2001) afirma que o mundo da informação no ciberespaço, para Gibson, tem forma e estrutura, tem arquitetura e formas coloridas; é um universo e uma realidade para si, tridimensional e navegável.
Em sua obra, Gibson mapeia o presente a partir da posição privilegiada de um futuro imaginado, em uma demonstração das possíveis conseqüências das tendências atuais de desenvolvimento, traçando o mapa dos modos pelos quais as novas tecnologias estão fluindo sobre o ser humano, criando novos indivíduos e novos ambientes.
Traça o mapa de um mundo onde o simulacro e a hiperrealidade são onipresentes (categorias criadas por Baudrillard - várias obras - para estudar a pós-modernidade 4) , onde abundam identidades artificiais geradas por computadores, onde os indivíduos são reconstruídos e modificados por meio de engenharia genética e implantes e, onde reina a total indefinição nas fronteiras entre a realidade física e a virtual (Kellner, 2001). Neuromancer retrata um mundo no qual as novas tecnologias e a mídia estão por toda parte e no qual os seres humanos se fundem nessas tecnologias, perdendo o controle dessas extensões de si mesmos.
Para Cascais (2001), Gibson utilizou-se da palavra ciberespaço para designar o espaço criado pela ligação de todas as bases de dados, das telecomunicações e das redes de computadores. Esse mesmo termo, ainda segundo Cascais, integra também o conceito de realidade virtual, na qual o indivíduo, através da utilização de um dispositivo (como um capacete), entra em um mundo tridimensional gerado pelos computadores. O termo ciberespaço tornou-se, ainda, uma metáfora significando uma nova dimensão da experiência e vida humana.
O espaço/tempo virtual proposto por Gibson tornou-se realidade inclusive no campo multissensorial, com o desenvolvimento de ferramentas interativas baseadas no conceito de realidade virtual, permitindo a comunicação interpessoal em ambientes virtuais. Além disso, compartilhado hoje por milhões de pessoas de todo o planeta, o ciberespaço adquire uma significação cultural de dimensão global. Com efeito, o ciberespaço, proposto por Gibson, problematiza a noção de sujeito, os conceitos de realidade, tempo e espaço.
Na concepção de Lévy (1998a, p.104) o ciberespaço, na obra de Gibson designa:
o universo das redes digitais como lugar de encontros e de aventuras, terreno de conflitos mundiais, nova fronteira econômica e cultural. …. O ciberespaço designa menos os suporte de informação do que os modos originais de criação, de navegação no conhecimento e de relação social por eles propiciados.
O mesmo autor salienta que a dinâmica imaterial do ciberespaço se apóia no avanço das forças produtivas do sistema capitalista, na sua busca incessante de aumentar a velocidade de rotação do capital e das transações mercantis e financeiras em escala planetária e é também resultante das tecnologias voltadas para a guerra, como a Internet, e para tanto, todo um investimento em tecnologia de informação se apresenta. As grafias deixadas pelas técnicas no atual estágio de produção social do espaço se expressam nos sistemas de satélites, cabos de fibra ótica, teleportos, rede de computadores com inovações constantes em softwares, hardwares etc., enfim, preocupações da atual ciência e disciplinas científicas que compreendem esses objetos relacionados ao ciberespaço.
Se o ciberespaço de "Neuromancer" conota um lugar fora da experiência comum, a ciência, por meio do ciberespaço funcional, já denota ser essa uma experiência comum, embora com uma pragmática diferente, que a Filosofia se encarrega de explicar.
Definições de ciberespaço na ciência
Do ciberespaço ficcional, isto é, da origem da palavra até o aparecimento de seu referente, no começo da década de 90, suas definições são mais inteligíveis que seu conceito filosófico de máquina abstrata (que também antecede seu referente), entretanto, segundo Koepsell (2004) é quase vago. Segundo o autor, esse termo denota uma rede de computadores vasta e crescente denominada Internet.
Entretanto, comprovamos aqui a tese de Deleuze e Guattari (1997a) em que cabe à ciência buscar o referente, uma figura aos conceitos criados pela Filosofia ou mesmo compostos pela Arte. A dimensão semântica busca a relação da definição com a realidade já atualizada em um referente que possa lhe dar a condição de verdade ao seu conteúdo, isto é, atribuir-lhe seu significado material.
O ciberespaço é o mais novo local de "disponibilização" de informações possibilitado pelas novas tecnologias. Uma nova mídia que absorve todas as outras e oferece recursos inimagináveis, há algumas décadas. Trata-se de um espaço que ainda não se conhece completamente, cheio de desafios e incertezas, tanto na sua práxis, quanto em suas formulações filosófico e teóricas. Um espaço aberto, virtual, fluido, navegável. Um espaço que se constrói em cima de sistemas, e, por esse mesmo fato, é também o sistema do caos, como Lévy (2000) o caracteriza.
Para muitos, o ciberespaço anuncia o futuro aterrador ou inumano apresentado em romances de ficção cientifica: fichamento de pessoas, tratamento de dados sem local definido, poderes anônimos, impérios tecnofinanceiros implacáveis, implosões sociais, apagamento de memórias, guerras de clones enlouquecidos em meio a incontroláveis interações em tempo real (Lévy, 1998a). No entanto, a nossa sociedade já se desenrola nas vias do ciberespaço, mesmo que ainda não seja possível defini-lo ou caracterizá-lo em sua totalidade de devires.
Na literatura científica, é possível encontrar muitas definições de ciberespaço. Lévy (2000, p.92), o define como sendo um “… espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores.” O autor afirma, ainda, que:
Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de rede hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização. Insisto na codificação digital, pois ela condiciona o caráter plástico, fluido, calculável com precisão e tratável em tempo real, hipertextual, interativo e, resumindo, virtual da informação que é, parece-me, a marca distintiva do ciberespaço. Esse novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação. A perspectiva da digitalização geral das informações provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do próximo século. (Lévy, 2000, p. 92-93).
Nesse sentido, percebemos que, para esse autor, o termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também todo o universo de informações que ele abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo.
Contrapondo à visão filosófica de Lévy, Koepsell (2004, p. 125) afirma que o próprio ciberespaço é físico, assim como seus componentes. Para ele, o ciberespaço não é nada de estranho ou especial, mas apenas:
um meio composto de chips de silício, fios de cobre, fitas e discos magnéticos, cabos de fibra ótica e de todos os outros componentes de computadores, meios de armazenamento e redes que armazenam, transmitem e manipulam bits. [...]. O software existe no ciberespaço como o texto existe no papel ou como uma estátua existe em pedra.
Tal acepção reducionista de Koepsell se deva em função que o ciberespaço tenha se desenvolvido junto com os computadores.
O ciberespaço, na definição de Rabaça e Barbosa (2001) é um espaço cibernético, um universo virtual formado pelas informações que circulam e/ou estão armazenadas em todos os computadores ligados em rede, especialmente a Internet; uma dimensão virtual da realidade, onde os indivíduos interagem através de computadores interligados. Ao falarmos em ciberespaço é comum pensar em algo que não é palpável, algo imaterializado, um lugar distante de nossa realidade, onde relações sociais, culturais, econômicas ao se estabelecerem se fazem no imaginário, um ambiente futurístico.
Na concepção de Santos e Ribeiro (2003), o ciberespaço é um conjunto de computadores e serviços que constituem a Internet. Gennari (1999) define o termo ciberespaço como sinônimo de espaço cibernético, e para Rabaça e Barbosa (2001), já citados, significa universo virtual.
De acordo com Ramal (2002) a palavra ciberespaço designa toda a estrutura virtual transnacional de comunicação interativa.
Como observam Silva e Silva (2004), o ciberespaço é uma região abstrata invisível que permite a circulação de informações na forma de imagens, sons, textos, movimentos; um espaço virtual que está em vias de globalização planetária e já constitui um espaço social de trocas simbólicas entre pessoas dos mais diversos locais do planeta.
Baseando-nos nas definições dos autores supracitados, podemos entender o ciberespaço como um universo virtual proporcionado pelas redes de telecomunicações, mormente a Internet. O ciberespaço pode ser concebido, também, como um novo mundo, um novo espaço de significações, um novo meio de interação, comunicação e de vida em sociedade. Esse universo não é irreal ou imaginário, existe de fato, e o faz em um plano essencialmente diferente dos espaços conhecidos.
A emergência do ciberespaço possibilita o surgimento de uma nova era da sociedade humana, uma revolução análoga à invenção da escrita. No entanto, trata-se de um novo meio, um local ainda desconhecido, começando a ser explorado. O ciberespaço implica uma nova relação de tempo e espaço. O espaço não é mais concreto, localizado em um território, mas um espaço cibernético, virtual, abstrato. O tempo não é mais linear, não é mais o tempo da História, cronológico; é o tempo real, o agora e atual.
Com a emergência das novas tecnologias de informação e comunicação, o tempo da História já não é o mesmo. Na era “virtual” as definições de tempo e espaço se fundem (ou confundem). Concordando com Ramal (2002, p.81), percebemos hoje, a existência de “... atores da comunicação conectados a uma rede, dividindo um mesmo hipertexto, numa relação totalmente nova com os conceitos de contexto, de espaço e de tempo das mensagens.”
No ciberespaço, todas as informações são disponibilizadas instantaneamente, em um tempo representado pelo “agora” (o tempo real) e o espaço que as contém é o mesmo (o próprio ciberespaço), ilimitado. É impossível visualizar o tamanho, a dimensão desse espaço virtual.
Pode-se, com a virtualização, buscar (e encontrar) qualquer informação e conhecimento disponíveis na rede, independente de onde ou como eles tenham sido integrados à mesma, ou se alguém está, simultaneamente, fazendo uso desses mesmos recursos.
As figuras do tempo são representadas por pontos e segmentos, pela velocidade pura, sem horizonte. O tempo é real, “A imediatez estendeu seu campo de ação e de retroação à medida da rede informático-mediática.” (Lévy, 1993, p.127).
A categoria proeminente nessa ambiência é o espaço, assim temos uma escrita espacial, contra a temporal dos lugares da memória (biblioteca, museus e arquivos).
Quanto à nova noção de espaço que o ciberespaço nos propõe, podemos afirmar que se trata de um local real, porém não físico. É um ambiente onde pessoas do mundo todo podem interagir sem estar, de fato, presentes. É um novo espaço de comunicação, representação e interação. O termo ciberespaço, em sua etimologia, já nos propõe essa nova noção: cyber-espaço, ou seja, um espaço diferente, cibernético, com novas possibilidades e implicações.
Lévy (1996) observa que a virtualização, apesar de ser um assunto emergente devido ao desenvolvimento cada dia mais acelerado das tecnologias de informação e comunicação, não está somente relacionada a esses fatores. Lembra que toda invenção de novas velocidades já é um primeiro grau da virtualização, e exemplifica esta afirmação citando o exemplo dos meios de transporte, que possibilitam uma maior interação de pessoas situadas em locais distantes, através da maior possibilidade de deslocamento entre um lugar e outro. De acordo com o autor:
Cada novo agenciamento, cada 'máquina' tecnossocial acrescenta um espaço-tempo, uma cartografia especial, uma música singular a uma espécie de trama elástica e complicada em que as extensões se recobrem, se deformam e se conectam, em que as durações se opõem, interferem e se respondem. A multiplicação contemporânea dos espaços faz de nós nômades de um novo estilo: em vez de seguirmos linhas de errância e de migração dentro de uma extensão dada, saltamos de uma rede a outra, de um sistema de proximidade ao seguinte. Os espaços se metamorfoseiam e se bifurcam a nossos pés, forçando-nos à heterogênese. (Lévy, 1996, p. 22-23).
Da mesma forma, o ciberespaço proporciona um ambiente dotado de velocidade, que oferece a seus usuários a possibilidade de aproximação e interação com outro ser que se encontra fisicamente distante (ou não).
Lévy (1996) afirma, ainda, que a virtualização promove a unidade do tempo sem a unidade de espaço (graças às interações em tempo real por redes eletrônicas, às transmissões ao vivo, aos sistemas de telepresença). Há uma continuidade de ação apesar de uma duração descontínua. A sincronização substitui a unidade de lugar, e a interconexão, a unidade de tempo.
A Filosofia e a máquina abstrata: a guisa de um conceito para o ciberespaço
Segundo Lévy (1998b) uma grande Filosofia reconhece-se pelo que antecede e contribui para criar o novo imaginário que a ciência vai instaurar.
Qual ascendência filosófica atribuir ao ciberespaço? Nessa direção, a Filosofia de Deleuze e Guattari (1995, v.2) nos fornece alguns conceitos que hoje podemos aplicar ao ciberespaço, sobretudo a sua escritura hipertextual.
Em especial o conceito de "máquina 5 abstrata", mais que uma metáfora, trata-se de uma ontologia no âmbito da linguagem, que explica essa grande máquina semiótica que é o ciberespaço. Assim sendo, afirmamos que o ciberespaço é uma máquina abstrata, portanto, uma máquina semiótica.
Mas, por que nos situamos na pragmática? Porque a pragmática busca a relação do conceito com o acontecimento examinando o seu funcionamento ou utilidade. Assim, a pragmática investiga a relação dos conceitos e seu sentido com os acontecimentos. Uma vez que já existe o referente "ciberespaço" sentimo-nos à vontade de situá-lo na dimensão pragmática, pois os autores lembram que a máquina é abstrata porque de linguagem, mas é concreta, hoje para nós, posto que existe o ciberespaço técnico e funcional.
Se por um lado o ciberespaço se encarna como referente do conceito "máquina abstrata", e ao fazê-lo localizamos sua dimensão na extensão ou denotação das definições contidas na ciência sobre o mesmo, por outro, o conceito de máquina abstrata o antecede, lança seu sobrevôo nesse objeto, mas não exclusivamente nele, de forma intencional, conotando-o.
Sendo o ciberespaço o espaço possível de criação de expressões culturais, ou seja, de cibercultura, transações comerciais, econômicas e sociais, abordaremos o ciberespaço como um espaço semântico/semiótico, onde o signo se dá em várias semióticas, desterritorializado, nômade, em escrita espacializada e com a memória em constante modificação.
Nesse contexto, as novas tecnologias (a propósito da nossa visão maquínica nos estudos das tecnologias da inteligência), antes de instaurar uma crise de representação, refletem o momento em que há o crescimento de complexidade na cognição, nas linguagens, na produção do conhecimento, e por isso mesmo, não temos a visão negativa da maioria dos autores pós-modernos.
Embora não seja o intuito do artigo discutir a pós-modernidade, apresentamos alguns princípios apresentados por Teixeira Coelho (2001) que são mais interessantes do que os elencados por Baudrillard(1991) (simulacro e hiperrealidade), a saber: complexidade e contradição; ambigüidade e tensão; inclusividade (e...e); hibridismo; vitalidade emaranhada. Nessa direção, Lara Filho (2003) afirma que a opção por alguns conceitos do pós-modernismo se deve em função que só os conceitos contemporâneos são capazes de enfrentar os problemas metodológicos e teóricos colocados nas últimas décadas.
Os agenciamentos maquínicos cognitivos decorrentes da semiótica do ciberespaço, e que efetuam a máquina abstrata, são outros e para entendê-los há de se abandonar uma visão verbalista e transcendental da linguagem.
São agenciamentos, de linguagem (enunciação) e de conteúdo (corpos), concretos que se relacionam no campo social e tornam a máquina abstrata real, produzindo mudanças significativas na forma de escrever, organizar e entender o mundo, a partir das formas simbólicas e da comunicação. O ciberespaço é uma máquina abstrata, onde se dá o pico de desterritorialização dos agenciamentos dos signos, a partir do virtual ou da virtualização e das conexões. Um agenciamento está tanto mais próximo da máquina abstrata quanto mais abre e multiplica as conexões e as relações, pois o agenciamento pode ser entendido como conexão e a máquina abstrata como o acontecimento advindo dessas relações.
Temos que pensar o ciberespaço como uma nova forma/função de produção do conhecimento, de comunicação e de composição da Arte. O ciberespaço restitui a imanência e a virtualidade do signo, em uma distribuição livre configurada em rede, em diagrama da máquina abstrata, impossível de ser capturado pelas estruturas dicotômicas significantes, posto a sua semiótica heterogênea.
Em primeiro lugar é preciso buscar o conceito de máquina abstrata. O mesmo não está ligado somente ao aspecto técnico, mas às máquinas cognitivas, afetivas, sociais, semióticas e também materiais, assim que para Guattari (1992) é preciso considerar que existe uma essência maquínica que irá se encarnar em uma máquina técnica, mas igualmente no meio social, cognitivo (ligado a essa máquina), pois:
"os conjuntos sociais são também máquinas, o corpo é uma máquina, há máquinas científicas, teóricas, informacionais. “A máquina abstrata atravessa todos esses componentes heterogeneamente ...", transversalmente (p. 51).
De um modo geral, uma máquina liga-se ao agenciamento que se abre a outros agenciamentos, discursivos ou não. Guattari (1992) garante que o termo “abstrato” pode ser entendido por “extrato”, no sentido de extrair, sendo que lhes dará ou não existência, uma potência, uma ontologia (enunciados maquínicos).
Para compreender melhor a máquina abstrata, deve-se ter em mente que o conceito de agenciamento pode ser entendido, também, como conexão, pois assim, torna-o mais inteligível à compreensão da relação entre as coisas e os signos, entre os movimentos de desterritorialização e a territorialização, (Deleuze, 1995, v.1, p. 85), de maneira que:
Forma de conteúdo [coisas] e forma de expressão [signos] remetem a duas formalizações paralelas em pressuposição: é evidente que elas não param de entrecruzar seus segmentos, introduzi-los uns nos outros, mas isso em virtude de uma máquina abstrata da qual derivam ambas as formas e em virtude de agenciamentos maquínicos que regulam suas relações.
Interessa-nos enfocar as relações entre os agenciamentos maquínicos de corpos e coletivos de enunciação (ambos designados maquínicos e que efetuam a máquina abstrata) como nova proposta de escritura, produção, representação, composição, criação e comunicação. Para tal, apresentamos uma demonstração, para facilitar o entendimento do conceito "agenciamento" que é deveras difícil:
Percebe-se que os autores buscaram alguns postulados da Lingüística para reorientá-los de acordo com uma Filosofia da linguagem própria, fortemente calcada na imanência e de fundamentação estóica, especificamente a questão do acontecimento, que transforma as coisas, os corpos, encarna em um conceito, mas subsiste na linguagem.
Então, a forma de “expressão” não se reduz às palavras, mas antes, a um conjunto de enunciados que surge no campo social considerado estrato, o que os autores consideram um regime de signos. Já a forma de conteúdo não se reduz a uma coisa, mas a um estado de coisas complexo como a Arquitetura, programa de vida, etc.
Há nelas duas multiplicidades que não cessam de se entrecruzar, por meio de agenciamentos (eis o processo importante dessa teoria), que são as multiplicidades ‘discursivas’ de expressões e as ‘multiplicidades não-discursivas’ [posto que são coisas ou estado de coisas] de conteúdo. (Deleuze; Guattari, 1995, v.1, p. 84)
Dessa forma, na noção de agenciamento maquínico está englobada a noção de condições naturais e artificiais interagindo nas matérias de expressão, onde a importância das tecnologias e das ferramentas não está nelas mesmas, mas na relação dessas com o homem, ou seja, com as misturas que tornam possíveis ou que as tornam possíveis, designadas simbioses ou amálgamas, que definem um agenciamento maquínico natureza-sociedade: uma sociedade se define por seus amálgamas e não por suas ferramentas, de tal sorte que os efeitos dessa máquina abstrata sobre as matérias de expressão não são jamais simbólicos ou imaginários, eles têm sempre um valor real de passagem ou alternância (movimentos de deterritorialização).
Isso significa que os autores consideram, em seus pressupostos, a relação do homem com os signos e com suas técnicas, pois “... à medida que tomam consistência, as matérias de expressão constituem semióticas; mas os componentes semióticos não são separáveis de componentes materiais.” (Deleuze; Guattari, 1997b, v. 4, p. 148).
Nesse sentido, acerca das máquinas, Lévy (1998b, p.145) afirma que:
Ignora-se sobretudo a que grau de simbiose homens máquinas chegarão dentro das novas redes sociais que estão esboçando-se com a extensão da temática, a crescente utilização da imagem digital, do editor de texto e dos sistemas experts. Breve transformar-se-ão a transmissão e o próprio conteúdo do saber. Ajudado por próteses lingüísticas e sensoriais, conectado aos bancos de dados, provido de extraordinárias capacidades de cálculo em tempo real, o homem informatizado está inaugurando práticas sociais e culturais ainda parcialmente desconhecidas, assim como se aborda a costa de um continente inexplorado. A informática não só está estruturando as práticas, como também, sobretudo, talvez, está contribuindo para cristalizar novas representações coletivas.
Deleuze e Guattari (1995, v. 2) explicam a relação entre um abstrato singular e um concreto coletivo: a máquina abstrata não existe mais independentemente do agenciamento, assim como o agenciamento não funciona independentemente da máquina, de modo que a máquina abstrata Lênin se relaciona com o agenciamento coletivo-bolchevique. O mesmo é válido para a Literatura, para a música, enfim, para as várias atividades simbólicas do homem.
Afirmam que a máquina abstrata, aquela que reúne os agenciamentos da máquina semiótica (formas de expressão ou regime de signos) aos agenciamentos maquínicos de corpos (formas de conteúdo ou regime de corpos) não deve ser universal, mas virtual-real, uma vez que esses termos não se opõem e são da ordem da realidade do criativo. Alertam ainda, que a máquina abstrata não é só linguagem ou linguagem pura, como quer Chomsky (criticado pelos autores), mas se submetida ou relacionada ao diagrama tetravalente de agenciamento (infracitado) revela as variáveis pragmáticas que estão implícitas na própria língua.
Essa é a pressuposição recíproca que implica na tetravalência do agenciamento de enunciação de Guattari (1992), que se apresenta sob a forma de diagrama, onde há: 1) expressão 2) conteúdo; 3) territorialidade 4) desterritorialidade, de modo que se pode perguntar:
“... por um lado, qual é a territorialidade do agenciamento, quais são o regime de signos [expressão] e o sistema pragmático [conteúdo]? Por outro lado, quais são as pontas de desterritorialização, e as máquinas abstratas que elas efetuam?” (Deleuze; Guattari, 1997b, v. 5, p. 220).
Dessa forma, a pressuposição recíproca se instala, sendo preciso encontrar um no outro, no que se diz e no que se faz. É também uma primeira divisão de todo agenciamento: por um lado, agenciamento de enunciação, por outro, e ao mesmo tempo, agenciamento maquínico de corpo. Porém o agenciamento se divide segundo outro eixo, com os 3º e 4º elementos de sua tetravalência: sua territorialidade e desterritorialidade ou linhas de desterritorialização que o atravessam e o arrastam.
A máquina abstrata é o pico da desterritorialização dos signos (ora, estamos falando do ciberespaço!), embora os componentes semióticos sejam mais desterritorializados do que os componentes materiais (mas o contrário também ocorre), existem graus de desterritorialização segundo os quais os conteúdos e as expressões se conjugam, alternam-se, precipitam-se uns sobre os outros, ou, ao contrário, estabilizam-se operando uma reterritorialização. (Deleuze; Guattari, 1995, v.2).
A máquina abstrata é um “diagrama”, e segundo Deleuze (2002, p.1) todo diagrama é uma multiplicidade, e não funciona para representar um mundo preexistente, porque “... opera desfazendo realidades e significações dadas”, de modo que o diagrama é diferente da estrutura: “ as alianças tecem uma rede frouxa e transversal, uma estratégia diferente, formando sistemas instáveis, por isso, as relações são ligações móveis e não-localizáveis.” Não nos parece um conceito do ciberespaço?
É importante salientar que a máquina abstrata opera em agenciamentos concretos, contra uma idéia platônica, universal e transcendental, portanto, define-se pelo quarto aspecto dos As (Agenciamentos), isto é, pelas pontas de descodificação e de desterritorialização (D). Traçam essas pontas de modo a abrir o AT (Agenciamento Territorial) para outros agenciamentos.
Em suma, o Ser resulta de sistemas de modelização que operam em vários níveis, o social, espiritual, científico, etc. Aqui, no caso, para Guattari (1992) os Universos de referência presidem a produção ontológica, que confere à humanidade sua característica de criação. Assim sendo, todos os sistemas de valor, sejam científicos, estéticos ou religiosos, se instauram na interface (maquínica) entre o atual e o virtual, sendo que os Universos de valor constituem os enunciadores incorporais que alimentam as realidades discursivas.
Vamos enfocar, mais uma vez, a diferença entre agenciamento e máquina abstrata, na teoria dos autores infracitados:
Cada vez que um agenciamento territorial é tomado num movimento que o desterritorializa (em condições ditas naturais ou, ao contrário, artificiais), diríamos que se desencadeia uma máquina. É essa a diferença que queríamos propor entre máquina e agenciamento: uma máquina é como um conjunto de pontas que se inserem no agenciamento em vias de desterritorialização, para traçar suas variações e mutações. Pois não há efeitos mecânicos; os efeitos são sempre maquínicos, isto é, eles dependem de uma máquina diretamente conectada com o agenciamento e liberada pela desterritorialização. O que nós chamamos de enunciados maquínicos são esses efeitos de máquina que definem consistência onde entram as matérias de expressão. (Deleuze; Guattari, 1997b, v. 4, p.146)
Tais efeitos, para os autores, jamais são só simbólicos ou imaginários, eles têm um valor real, daí a importância desse aporte teórico ao nosso conceito de ciberespaço. De um modo geral, o agenciamento territorial (pois o agenciamento é, em primeiro lugar, territorial) é tomado por um movimento de desterritorialização que abandona o território, abrindo-o assim, para outros agenciamentos, quer sejam discursivos ou não, sendo que, os mesmos são necessários para que “... estados de forças e regimes de signos entrecruzem suas relações ...”, daí que os agenciamentos maquínicos efetuam a máquina abstrata e podem ser entendidos como conexão (Deleuze, 1995, v. 1, p. 89).
Desse modo, a máquina abstrata se define ou opera pelo quarto aspecto dos agenciamentos, ou seja, na desterritorialização, abrindo o agenciamento concreto territorial para outros agenciamentos (lembremos que o primeiro e o segundo aspectos são os eixos de expressão e conteúdo, respectivamente, e o terceiro, a territorialização). Se pensarmos que a desterritorialização é o movimento pelo qual se abandona o território, o ciberespaço, por ser o ambiente movediço, graças ao virtual, é o espaço onde esse quarto aspecto se concretiza (agenciamentos concretos), definindo máquinas abstratas que se singularização nas Artes, na Literatura, na política, enfim, toda sorte de pragmática em que pode se desencadear dos agenciamentos coletivos de enunciação na sociedade. Nesse sentido, a máquina abstrata é o acontecimento derivado das relações entre signos e coisas ou estado de coisas, derivado do movimento de desterritorialização dos signos.
Deleuze e Guattari (1995, v. 2, p. 45) afirmam que a máquina abstrata é sempre singular, designada por um nome próprio, de grupo ou indivíduo (mas sem primado do indivíduo, mas um abstrato singular) ao passo que o agenciamento de enunciação é sempre coletivo, no indivíduo ou no grupo, de modo que podemos inferir que o Ciberespaço, como nome próprio, pode ser essa enunciação maquínica ou máquina abstrata que torna possível os demais agenciamentos, como a escritura rizomática, quer seja o hipertexto, e os demais agenciamentos coletivos supracitados.
Podemos falar também, em relação aos agenciamentos maquínicos, das máquinas que se relacionam com as semióticas (agenciamentos de enunciação), como as citadas por Beiguelman (2002),“máquinas de desescrever”, ou os softwares (programas) de edição de hipertextos, ou ainda as “máquinas de ler”, como os browsers, mas também máquinas de ouvir, de ver, de comunicar, enfim. O ciberespaço é, sem dúvida, a enunciação maquínica que tornará possível a concretização, por sua vez, de outras máquinas abstratas (com nomes próprios) na sociedade.
Das categorias à tipologia do ciberespaço: ontologia ou senso comum?
Já que nos situamos na dimensão filosófica do ciberespaço, iremos apresentar seus elementos que podem, salvo pretensão nossa, constituir-se em sua ontologia, não obstante, não sabemos se nos situaremos no senso comum ou na ontologia. Mas, o ciberespaço pode constituir-se em objeto ontológico? Koepsell (2004, p. 23) indaga:
O que é ciberespaço? É dimensional? Existe algo no ciberespaço? As coisas no ciberespaço são chamadas apropriadamente de objetos? Tais objetos ou o próprio ciberespaço são substâncias ou processos? Como deveria o ciberespaço se enquadrar em um esquema categórico mais amplo? O tratamento dessas questões deveria levar ao desenvolvimento de uma ontologia abrangente de ciberespaço.
A ontologia enquanto estudo do ser, da existência ou realidade pode ser utilizada com o objetivo de identificar, estudar ou mesmo aperfeiçoar um esquema categórico de certos objetos, ou incluir novos objetos em um esquema dado. Da ontologia ao senso comum, Koepsell 6 (2004) propõe a ontologia do senso comum, aquela utilizada por ele e que se encarrega de sair da eminência das análises filosóficas e deter-se na categorização dos objetos do ciberespaço que as pessoas comuns poderiam estar aptas a fazer, mediante a experiência. Nessa direção o autor apresenta:
1) as partes do ciberespaço (bits; bytes; palavras; algoritmos; programas);
2) locais ciberespaciais (armazenamento);
3) os dispositivos de entrada e saída de dados;
4) redes;
5) função e significado no ciberespaço.
Não obstante, iremos apresentar outra classe de objetos existentes no ciberespaço na qual denominaremos de topografia, que pretende levantar certos objetos categorizando-os, não como categorias eminentemente filosóficas, mas como um esquema geral de sua existência ou realidade, quer sejam: 1) Web; 2) hipertexto; 3) browser; 4) mecanismos de busca.
É comum, na literatura científica, o ciberespaço ser citado como sinônimo de Internet, mas de acordo com Jungblut (2004, p.102, "... a Internet, se primarmos por um rigorismo conceitual, é apenas a base material ...é apenas uma rede de computadores, de máquinas interligadas (uma espécie de super-hardware)." Com efeito, para Ted Nelson, a Internet é apenas um nome para um sistema específico de comunicação ( Ted Nelson, 2005).
Chamada “rede das redes” ou "rede mundial de computadores", a Internet baseia-se na cooperação anarquista de milhares de centros informatizados no mundo, e tornou-se o símbolo do grande meio heterogêneo e transfronteiriço que Lévy (1998a) designa como ciberespaço.
Preferimos o rigor conceitual de Jungblut (2004) para a Internet, deixando para o ciberespaço a noção de espaço móvel, paradoxal, um local invisível onde circulam conhecimentos, saberes e potências de pensamento.
Com a criação da World Wide Web (teia de alcance mundial), por Tim Berners-Lee, no começo da década de 90, acompanhada pelo hipertexto 7 operacional, a noção de ciberespaço emerge, pois se torna o espaço amplamente utilizado de virtualização, deslocamentos, desterritorialização e comunicação, tornando-se também espaço de criação de uma nova cultura: a cibercultura. Nesse sentido, a Web é o principal "lugar" do ciberespaço, seu principal edifício, podendo tomá-la como o centro de todas as possibilidades de interfaces.
Segundo a Wikipedia (2006) a funcionalidade da Web é baseada em três padrões: a URL, que especifica como cada página de informação recebe um "endereço" único onde pode ser encontrada; HTTP, que especifica como o navegador e servidor enviam informação um ao outro (protocolo); e HTML, um método (e linguagem) de codificação da informação de modo que possa ser exibida em uma grande quantidade de dispositivos.
Aquilo que está marginal à Web, ou está em vias de extinção, ou está sendo incorporado à Web e segundo Jungblut(2004, p.115) são:
1) localização e transferência de arquivos disponibilizados no ciberespaço: FTP (File Transfer Protocol), archie, gopher, veronica, etc;
2) uso remoto, por simulação, de um computador distante: sistemas telnet;
3) interação comunicacional entre dois ou vários usuários.
No terceiro grupo, talvez o mais resistente ambiente marginal à Web, encontram-se o correio eletrônico ou e-mail e outros serviços de comunicação associados a ele, como as listas de discussão, grupos de notícias, além das mensagens trocadas nos programas-cliente ICQ, MSN, MIRQ, ou seja, os chats. Não por acaso, tem relação com a comunicação, uma das primeiras utilizações da Internet anterior à Web.
Stefik (apud Jungblut, 2004, p.104) relata que existem quatro arquétipos relacionados aos usos que se podem fazer da Internet, que transpomos ao ciberespaço:
1) biblioteca digital: conteúdo disponibilizado no ciberespaço, em que não se pode interferir em suas características, ou seja, os jornais, revistas, livros, etc;
2) meio de comunicação: todas as formas de comunicação mediadas pelo computador;
3) mercado eletrônico: incluem-se todas aquelas atividades comerciais ou financeiras, desde transferências bancárias até compras on-line e serviços bancários;
4) espaço para criação de mundos digitais: consiste em construção de ambientes virtuais para diversas finalidades.
Gostaríamos de incluir uma nova categoria não citada pelos autores e de extrema importância, especialmente na área da Ciência da Informação, porque diz respeito à organização do conhecimento no ciberespaço, os mecanismos de busca, com todas as suas sintaxes e heterogênese, são máquinas capazes de buscar qualquer um dos elementos supracitados.
Outra categoria importante não constante no artigo de Jungblut (2004) e citada por Ted Nelson , 2005), filósofo que cunhou o termo "hipertexto" na década de 60 com o projeto chamado "Sistema de Edição de Hipertexto", é o browser, referindo-se especialmente a um dos pioneiros navegadores , o Mosaic 8, criado por Marc Andreseen e Eric Bina. Segundo o autor, o crescimento da Web se deve a tudo que foi criado a partir dessa geração, como as imagens, o JPEG, o sistema Java, janelas atualizáveis e também os microprogramas que se instalam no computador do usuário para permitir a navegação rápida e a decodificação de informações, os cookies.
Com efeito, consideramos a Web, o edifício central do ciberespaço, o hipertexto, a máquina capaz de escrever todas as semióticas, o browser, uma máquina de leitura que possibilita a navegação na rede e por fim as máquinas de busca, que possibilitam, na medida do possível, organizar o conhecimento e a informação, como os principais elementos topográficos do ciberespaço. O ciberespaço, como sabemos, é um ambiente virtual possibilitado pela integração de redes de computadores, a Internet.
Considerações Finais
Neste artigo, fizemos um mapeamento cognitivo, na Literatura, na ciência e Filosofia do termo "ciberespaço." Tal mapeamento, longe de ser conclusivo, nos leva cada vez mais a procurar as filosofias, teorias ou mesmo ficções que nos ajudem a perscrutar as tecnologias da inteligência.
No entanto, diante das definições e conceitos apresentados pelos diversos autores citados, podemos entender ciberespaço, finalmente, como um mundo virtual, onde são disponibilizados variados meios de comunicação e interação em sociedade. Um universo virtual onde se encontram quantidades massivas de dados, informações e conhecimento em que os textos são "mixados" a imagens e sons, em um hipertexto fluido e cheio de possibilidades, ou seja, um ambiente não físico, mas real, um espaço aberto, cheio de devires, onde tudo acontece instantaneamente, em tempo real e de durabilidade incerta.
Esse mundo virtual caracteriza-se não somente pela representação, mas pela simulação: uma das possibilidades de exercício do real. Mas o ciberespaço não está desconectado da realidade. O virtual não é o oposto do real. A diferença é que, no espaço dos fluxos (o ciberespaço) acontece uma desmaterialização das relações sociais conectadas em rede. O que antes era concreto e material adquire uma dimensão imaterial na forma de impulsos eletrônicos.
Ao mergulhar no ambiente do ciberespaço, Cardoso (1997) afirma que o usuário experimenta uma sensação de “abolição do espaço” e circula em um território virtual, transnacional, desterritorializado, no qual as referências de lugar e caminhos que ele percorre para se deslocar de qualquer ponto a outro modificam-se substancialmente, ou até mesmo, chegam a desaparecer.
O ciberespaço, enfim, é uma grande máquina abstrata, semiótica e social onde se realizam não somente trocas simbólicas, mas transações econômicas, comerciais, novas práticas comunicacionais, relações sociais, afetivas e sobretudo novos agenciamentos cognitivos.
Nesse contexto, a Web é seu principal constructo, onde convergem as linguagens e a interoperabiblidade necessária para efetuação das trocas simbólicas. Já a Internet é entendida aqui como a base técnica e operacional do ciberespaço. Dito isso, supomos que a compreensão do ciberespaço é mais ampla que a Web e a Internet.
Na Literatura, a I.A. (Inteligência Artificial ,"Neuromancer") vence os humanos, mas Case, o protagonista, continua sua existência humana, apesar das I.As. e das próteses humanas. Na Filosofia e na ciência, longe de um desfecho igual ao da ficção, estamos buscando compreensão aos novos desafios que as tecnologias de informação e comunicação impõem à sociedade, e porque não dizer, à humanidade.
Notas
[1]Professora Adjunto do Departamento de Ciência da Informação, Universidade Estadual de Londrina. Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC- São Paulo <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.;. Este artigo faz de um subprojeto, vinculado ao projeto de pesquisa "Memória no Ciberespaço", que contou em sua fase inicial com recursos do CNPq, bem como contou com a participação de Maria Elisa Valentim Pickler, aluna do Curso de Biblioteconomia, Universidade Estadual de Londrina, bolsista de Iniciação Científica do CNPq.
[2]Para efeito deste artigo, usaremos a palavra "termo" no sentido dado pela gramática: vocábulo, dicção, palavra e expressão, e não como empregado na área de Ciência da Informação, no sentido de terminologia especializada.
[3]Segundo Kellner (2001) foram feitas duas traduções desse romance em língua portuguesa. O título constante nas edições da editora Aleph é "Neuromancer" e da Gradativa (de Portugal) é "Neuromante".
[4]Não vamos aprofundar, neste artigo, a visão pós-moderna de tecnologia existente nas obras de Baudrillard (1991), calcada no simulacro e na hiperrealidade e de Gibson, em que a tecnologia é extensão dos seres humanos, que a usam com a finalidade de controlar e dominar a natureza humana.
[5]"O termo máquina também pertence a certa tradição de representação do corpo. Quer nos remetamos a Platão ou a Descartes, o corpo pode ser apreendido como figura maquínica por se encontrar em meio a uma cosmologia, ela mesma máquina física. "O corpo é máquina parcial subordinada à máquina demiúrgica que organiza a matéria. "Máquina, nesse sentido, implica a representação da matéria sempre subordinada a certa organicidade que a move. "Os afetos do corpo, por essa apreensão, são concebidos como sintomas da própria parcialidade a que a máquina-corpo está sujeita. "Afetos são os sintomas da passividade da máquina parcial, portanto, sintomas da parcialidade e da subordinação do corpo à máquina total do cosmos. "O corpo é máquina justamente por organizarem-no as mesmas leis da física que organiza a natureza. "O corpo como máquina, ambiguamente, é a figura que apresenta o corpo como objeto, racional, porém involuntário, espontâneo, porém cognoscível." Diniz, Descrever a máquina, 2004.
Koepsell prossegue: "Quais são então as preocupações filosóficas que devem ser tratadas sob uma investigação ontológica de ciberespaço? Há pelo menos, um consenso geral entre os filósofos de que a ontologia é, de modo variado, o estudo de: existência, ser, realidade e/ou significado de cada uma dessas palavras. "Assim, uma ontologia do ciberespaço consideraria esses assuntos como se fossem aplicados aos fenômenos nos quais concordamos constituir ou abranger o ciberespaço." Koepsell, 2004, p. 27.
[7] Não iremos nos deter na discussão sobre o hipertexto, mas escrevemos, em outro momento, os princípios filosóficos dessa nova representação do conhecimento, ou seja, a escritura hipertextual, de acordo com os princípios do rizoma, de Deleuze e Guattari, v.1, 1995. Ver Monteiro, S.D. A organização do conhecimento no ciberespaço. Datagramazero, v.4, n.6, p. 1-24, dez.2003.
[8] "O primeiro navegador desenvolvido foi o WorldWideWeb pelo próprio Tim Berners-Lee para plataforma NeXTSTEP em1990, mas mais adiante surgiram outros navegadores como o Viola, da Pei Wei (1992). Marc Andreessen, da NCSA, lançou um navegador chamado "Mosaic para X" em 1993 que causou um tremendo aumento na popularidade da Web entre usuários novos. Andreesen fundou a Mosaic Communication Corporation (hoje Netscape Communications)." Wikipédia, 2006.
Referências bibliográficas
Baudrillard, Jean. Simulacros e Simulação. Portugal: Relógio D’Agua: 1991.
BEIGUELMAN, Gisele. O livro depois do livro: prateleira. In: DESVIRTUAL. Disponível em: <http://www.desvirtual.com./thebook/portugues/estante_soft.htm> Acesso em: 25 jul. 2002.
CARDOSO, Carlos. Notas para uma geografia do ciberespaço. Pretextos: Jornal Eletrônico da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação,1997. Disponível em: <http://www.facom.ufba.br/pretextos/>. Acesso em: 08 set. 2005.
CASCAIS, Fernando. Dicionário de Jornalismo: as palavras dos media. São Paulo: Verba, 2001.
DELEUZE, Gilles. Design Research- diagramas. Disponível em:
<www.uol.com.br/artecidade/diagramas_txt01.htm>. Acesso em: 24 ago. 2002.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a Filosofia. São Paulo: Ed. 34, 1997a.
______. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Ed. 34, 1995. v. 1-2.
______. São Paulo: Ed. 34, 1997b. v. 5.
DINIZ, Marcelo. Descrever a máquina. Terceira margem, ano 9, n.11, 2004. Disponível em: <http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/index_terceira_margem.htm.> Acesso em:
09 jan.2006.
GENNARI, Maria Cristina. Minidicionário de Informática. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
GIBSON, Willian. Neuromancer. São Paulo: Aleph, 2003.
GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: Ed. 34, 1992.
JUNGBLUT, Airton Luiz. A heterogenia do mundo on-line: algumas reflexões sobre virtualização, comunicação mediada por computador e ciberespaço. Horiz. Antropol. v.10, n.21. Porto Alegre jan./jun. 2004. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832004000100005&lng=pt&nrm=isso>. Acesso em: 03 out. 2005.
KELLNER, Douglas. Como mapear o presente a partir do futuro: de Baudrillard ao cyberpunk. In:______. A cultura da mídia. Bauru: EDUSC, 2001. p.377-419.
KOEPSELL, David R. A ontologia do ciberespaço: a Filosofia, a lei e o futuro da propriedade intelectual. São Paulo: Madras, 2004.
LARA FILHO, Durval. O fio de Ariadne e a arquitetura da informação na WWW. Datagramazero: Revista de Ciência da Informação, Artigo 02, v. 4, n.6, p. 1-19, dez. 2003. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/dez03/F_I_art.htm>. Acesso em: 06 out. 2005.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed.34, 2000.
______. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola, 1998a.
______. A máquina universo: criação, cognição e informática. Porto Alegre: Artmed, 1998b.
______. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Ed. 34, 1993.
______. O que é o virtual? São Paulo: Ed. 34, 1996.
NELSON, Ted. O computador ainda imita o papel: entrevista. Entrevistador: OLIVEIRA, Neide. NATAL digital. Veja, São Paulo, ano 38, n. 52 (Veja 1932), nov. 2005. Edição Especial.
RABAÇA, Carlos; BARBOSA, Gustavo G. Dicionário de comunicação. 2.ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
RAMAL, Andrea Cecília. Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002.
SILVA, Carlos Alberto F. da; SILVA, Michele T. Cândido da. A dimensão socioespacial do ciberespaço: uma nota. Disponível em: <http://www.tamandare.g12.br/indexciber.htm>. Acesso em: 20 out. 2004.
TEIXEIRA COELHO, J. Moderno pós-moderno: modos e versões. 4.ed. São Paulo: Iluminuras, 2001.
WORLD WIDE WEB. In: Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/World_Wide_Web>. Acesso em: 10 jan. 2006.
Silvana Drumond Monteiro
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Professora Adjunto do Departamento de Ciência da Informação, Universidade Estadual de Londrina.