Métodos de pesquisa para internet
A obra de Suely Fragoso, Raquel Recuero e Adriana Amaral caracteriza-se como um cardápio de autores, teorias, métodos e metodologias. As autoras trazem para a cena de discussão, o que está em voga, no que tange a pesquisas relacionadas à internet, mídias sociais, redes sociais e afins. O livro atua como uma verdadeira bússola teórica para pesquisadores (iniciantes ou não), oferecendo rumos e modos de navegar, nesse oceano empírico da pesquisa. As autoras destacam que o objetivo central do livro é “apresentar perspectivas metodológicas construídas para as problemáticas relativas à própria comunicação mediada pela tecnologia digital e também fornecer subsídios para estudos sobre outros temas que sejam na internet ou que a utilizam como instrumento de pesquisa” (apud FRAGOSO et. al., 2011, p. 18).
Já no prefácio do livro, escrito por Alexander Halavais , compreendemos que com a internet, presenciamos um momento ímpar em relação à interação da sociedade, pois as “interações sociais em ambientes online acrescentam outra camada de virtualidade ao objeto da observação ou, mais exatamente, tornam mais óbvio o quanto as interações sociais são efêmeras” (HALAVAIS apud FRAGOSO et. al., 2011, p. 12). Além disso, essas interações são complexas, também porque sabemos, através de pesquisas sobre a internet, que raramente essas interações existem somente no mundo online.
Na internet podemos perceber como acontecem “nossas práticas sociais”, como interagimos uns com os outros, enquanto indivíduo, enquanto grupo, e por tal razão, se fazem necessárias “novas formas de observação, que requerem que cientistas sociais voltem a fabricar suas próprias lentes, procurando instrumentos e métodos que viabilizam novas maneiras de enxergar”, assim como um dia fez Galileu, quando construiu seu telescópio. Nesse contexto, necessitamos construir nossos próprios “instrumentos de compreensão de aspectos do mundo natural” (HALAVAIS apud FRAGOSO et. al., 2011, p. 13-14). Nas palavras de Halavais (apud FRAGOSO et. al., 2011, p. 15), “a análise de redes sociais [...] tem provado ser um instrumento particularmente apto para a compreensão de uma sociedade que se encontra cada vez mais estruturada como uma rede e que utiliza novas ferramentas de rede”. O professor afirma ainda, que com a internet, podemos observar um número inesgotável de interações sociais, “que jamais esperávamos”.
A obra é organizada basicamente em duas partes: I- Perspectivas sobre a pesquisa empírica e II- Apropriações Metodológicas. Nesta primeira parte, Fragoso (et. al., 2011, p. 27) apresenta-nos um panorama sobre os estudos de internet. A partir da indagação se o estudo de internet é uma disciplina ou um campo, compreendemos que para Baym (apud FRAGOSO et. al., 2011, p. 30), a internet é um “objeto que está cada dia sendo mais estudado por diversas áreas, o que mostra que ‘ela está se movendo para o palco central na maioria das disciplinas’”. Para Markhan, a internet é uma “não-disciplina”, para Shrum, é uma “indisciplina”, para Engel-brecht é uma “meta-disciplina”, para Hunsinger é uma “transdisciplina”, e para Jones, é “um subcampo inserido em um campo maior que ainda precisa ser nomeado” (BAYM apud FRAGOSO et. al., 2011, p. 30). Contudo, para Baym (2005) e para Silver (2004), o estudo de internet é um estudo sobre “um campo determinado” (apud FRAGOSO et. al., 2011, p. 31).
Porém, Baym (apud FRAGOSO et. al., 2011, p. 32) ressalta que os estudos de internet devem seguir algumas premissas fundamentais: devem levar em consideração a tradição dos estudos de mídia e das demais tecnologias que “antecedam e ultrapasse a internet”; abordar a internet enquanto objeto, de forma responsável, realizando perguntas chaves; enxergar além de nossas “condições locais”; dialogar e trocas idéias com outras disciplinas e outros campos de pesquisa; e “primar pela reflexividade e pelos conceitos, definições, rótulos e metáforas através dos quais organizamos e construímos nossas recomendações teóricas”.
De acordo com Costigan (apud FRAGOSO et. al., 2011, p. 33), as análises de ciências sociais produzidas sobre a internet podem ser organizadas em duas categorias: a primeira diz respeito à “habilidade de busca e recuperação de informações a partir de enormes bancos de dados”; já a segunda, se refere “às capacidades de comunicação interativa presentes na internet”. A partir dessas premissas, percebemos que a complexidade de tais análises “reside nas diferentes apropriações e formatos e nas diferenças históricas com outros tipos de meios de informação e comunicação já estudados”.
Estudos sobre, através, e na internet são relativamente novos. Sobre esse aspecto, Fragoso (et. al., 2011, p. 35) afirma-nos que umas das problemáticas desse estudo é sobre o hype da internet. Ou seja, considerar a internet enquanto uma novidade, o que de acordo com Jones (apud FRAGOSO et. al., 2011, p. 35), pode ser um aspecto positivo “em relação à descoberta”, visto que pode “ajudar no desvelamento de pertinentes aspectos das mesmas para a comunidade científica”. No cenário brasileiro, as pesquisas empíricas em internet ganharam um maior fôlego no segundo semestre dos anos 2000, tendo em vista que os estudos anteriores continham um teor mais filosófico e psicológico, ou mesmo, ensaísta.
Com relação às abordagens qualitativas da pesquisa em internet, Fragoso (et. al., 2011, p. 40) afirma que cada vez mais as informações estão disponíveis para serem analisadas. Cada vez mais podemos saber o que as pessoas estão fazendo online. Visto que, a internet pode ser entendida enquanto cultura, ou seja, compreendido como “um espaço distinto do offline, no qual o estudo enfoca o contexto cultural dos fenômenos que ocorrem nas comunidades e/ou mundos virtuais”. Pode ser entendida como um artefato cultural, se observarmos “a inserção da tecnologia na vida cotidiana, e assim, tal perspectiva “nos oportuniza o entendimento do objeto como um local intersticial no qual as fronteiras entre online e offline são fluidas e ambos interatuam”. E pode ser entendida também como mídia, ou uma “tecnologia midiática, que gera práticas sociais”, sendo que neste viés, “cada abordagem teórica e seus diferentes conceitos são apropriados”. De acordo com Fragoso (et. al., 2011, p. 44), essa perspectiva “entende a internet como mídia que permite práticas e estratégias comunicacionais que estão articuladas com os diferentes tipos de cultura”.
Sobre a pesquisa em internet, Fragoso (et. al., 2011, p. 50) nota algumas sugestões ofertadas por Baym (2009). De acordo com tal autor, é imprescindível “conectar-se à história prévia da investigação”, ou seja, é necessário compreender o contexto das conversações, e isso na maioria das vezes se dá através de um levantamento bibliográfico. É necessário foco, saber onde e o que se quer pesquisar. É preciso ser prático, e saber fazer escolhas dentre a infinita gama de possibilidades que a internet nos oferece. É importante também “desenvolver explicações convincentes”. Ainda sobre o levantamento bibliográfico, Fragoso (et. al., 2011, p. 90) afirma que a revisão de literatura pode ser feita como forma de “confrontar os dados e possibilitar o refinamento das observações de campo”.
Isto é uma breve explanação sobre informações do livro, que contempla uma gama muito maior de assuntos.