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Internautas: inteligências coletivas na cibercultura

Internautas: inteligências coletivas na cibercultura

A cibercultura, nos dias de hoje, conquistou o status de “hiper cultura” desenvolvendo-se em um ambiente pós-moderno. Os internautas possuem agora um território ou um “hiper-espaço”, uma linguagem simbólica complexa, uma sensibilidade e uma socialidade coletivas de um “novo tipo”, como dizia Durkheim da “consciência coletiva”. No entanto, apesar das novas competências cognitivas que disso resultam, e dessa consciência expandida de um “novo tipo”, podemos detectar a emergência das formas de inteligência coletiva? Através do exemplo das “ferramentas” da Internet, examinaremos o problema do “reconhecimento” da comunidade dos Internautas por ela própria. Wikipédia, o saber enciclopédico ao alcance de todos, coloca a questão do autor “coletivo” ou “reunido”. Facebook, Twitter, as plataformas relacionais, apresentam-se como um rascunho de imagens coletivas, um “espelho coletivo” da comunidade por e para ela mesma?

O mundo formado pela tela da Internet pos-
sui hoje sua própria cultura, uma grande “ga-
láxia” constituída por atores e suas novas práticas, que segue possível de ser definida pela noção de “cibercultura”. A cibercultura já possui as características e propriedades próprias a uma comunidade cultural, destacadas por diferentes pesquisadores há várias décadas.
Foi em particular a contribuição de pesquisadores do CEAQ que demonstrou as formas de novas socialidades ligadas às formas de comunicação próprias à tela, e as relações sociais tecidas pela Internet desde os anos 901. E também a análise de Michel Maffesoli, na qual ele enfatiza como as diferentes redes da Internet tendem a projetar uma imagem de si através da (re)criação de uma iconologia própria2.
A pequena comunidade de iniciados desenvolveu-se rapidamente em alguns anos em uma comunidade de usuários de mais de 6 milhões de Internautas na França. A comunidade era dotada inicialmente de um “imenso espaço em branco”, do qual My Space ou Second Life seriam os exemplos mais evidentes, “jogar, sonhar, construir, à partir do imaterial”3. Um espaço virtual formando um território extensível ao infinito, enquanto o contexto geral da pós-modernidade relata, ao contrário, um senso estreito do universo: eis uma das características que permite apreender o
“reencantamento do mundo” e a sensibilidade dos pioneiros, provocados pela tela.
A comunidade também se nomeou rapidamente, por e para ela mesma, assim como para o resto do mundo, os “Internautas”. Sem dúvida em ressonância com os heróis das primeiras eras mitológicas da humanidade, os “Argonautas” – que navegaram sobre sua nave à procura do Tosão de Ouro – os “Internautas” exploram outra vez o imaginário dos espaços infinitos e a ideia de uma nova busca. O nome escolhido e a genea-
logia idealizada entra também em ressonância com a metáfora dos povos primeiros das ciências humanas e sociais4, mas seu Pacífico, o oceano sem fim de suas práticas, é a tela.
Estes elementos de imagens estão presentes desde o nascimento da cibercultura. A ideia da “aldeia global”, de Philippe Breton, conectando o plano microssocial do pequeno grupo de afinidades ao plano macrossocial da rede de redes recobrindo o planeta Terra5. Ou “a arte da combinatória” exposta por Norbert Wiener, conectando a performance tecnológica (o suporte, as NTIC) à performance social complexa (uso individual e coletivo) da rede de usuários6. É assim que Michel Maffesoli destaca como este imaginário específico, mesmo apenas esboçado, “se espalha em seguida no corpo social”. E, por uma “astúcia da técnica, a cibercultura reinveste nos afetos e recria uma mitologia específica […] o laço social é então confortado pela técnica”7.
A comunidade de Internautas, agora planetária, detém assim três características das comunidades culturais definidas pela etnologia, embora esta descreva até então grupos bem mais restritos: uma linguagem específica; um território próprio; crenças, costumes e rituais particulares.
Uma linguagem específica
Existe na Internet certo número de imagens e de signos, dos quais alguns são transformados em símbolos e utilizados como ferramen-
tas no quotidiano. Temos assim o “ícone”, símbolo do uso de base: forma e nomes das pastas. Ou, por exemplo, a “barra de menus” e as “barras de ferramentas” de nossos menus, que comandam todas as operações/ações possíveis em nossos arquivos. É possível, logo, efetuar certo número de operações sobre esses símbolos. A primeira operação fundadora e básica, o famoso “clique sobre um ícone”, tornou-se hoje em dia um ato tão familiar para nós quanto manusear obras ou arquivos em papel. Esta microatividade complexa é ilustrada na França por uma publicidade do Estado para a televisão, visando familiarizar e desenvolver o uso das NTIC pela população de terceira idade. “Eu também sei clicar sobre o ícone com o mouse!, diz uma vovó sorridente a seu companheiro um pouco desconcertado” (publicidade TV Francesa 2005-2006 e formação especializada para os seniors franceses em 2010).
No século XXI, nós, de todas as idades, clicamos cotidianamente e banalmente sobre ícones. Enquanto nossos ancestrais, por uma curiosa inversão de valores, faziam deles motivo de guerra, iconófilos contra iconoclastas. Em um mundo dessacralizado, o ícone parece ter perdido sua dimensão de ligação ao sagrado8. Será que, paradoxalmente, essa mudança radical no cotidiano de nossos usos e costumes em termos de comunicação, permite presumir uma mudança de imaginário a longo termo? Uma mudança em termos de movimento de civilização? Essas questões unem-se à reflexão iniciada sobre as transformações dos modos de acesso ao saber, assim como sobre a transformação do próprio saber. Seria uma nova forma de saber induzida por uma nova cultura?